Pedidos de indenização relacionados à morte por excesso de trabalho aumentaram para um recorde de 1.456 em 2015, segundo o ministério do trabalho.

O Japão está testemunhando um número recorde de pedidos de indenização relacionados à morte por excesso de trabalho, ou karoshi, um fenômeno anteriormente associado ao homens assalariados e que agora está cada vez mais afligindo jovens trabalhadores e mulheres.

A demanda de trabalho é a maior desde 1991, o que poderia ajudar o primeiro-ministro Shinzo Abe a atrair mais mão de obra e conter o efeito de “encolhimento populacional”, mas uma fraca execução das leis trabalhistas significa que alguns contratantes estão simplesmente “apertando” ainda mais os funcionários, levando algumas vezes à trágicas consequências.

Pedidos de indenização por karoshi aumentaram para um recorde de 1.456 no ano fiscal de 2015, de acordo com dados do ministério do trabalho, com casos concentrados nas áreas da saúde, serviços sociais e construção civil, setores que enfrentam escassez crônica de trabalhadores.

Hiroshi Kawahito, secretário-geral do Conselho Nacional de Defesa para Vítimas do Karoshi, disse que o número real, provavelmente, foi 10 vezes maior, visto que o governo é relutante em reconhecer tais incidentes. Kawahito, que é advogado e lida com casos de karoshi desde 1980, disse que 95% das ocorrências administradas por ele foram de homens de meia idade que trabalhavam em serviços administrativos, mas agora 20% são mulheres.

news-11042016-2O Japão não tem limites legais em relação à horas de trabalho, mas o ministério reconhece dois tipos de karoshi: morte por doença cardiovascular ligada ao excesso de trabalho e suicídio após estresse mental relacionado ao trabalho.

Suicídios relacionados ao trabalho tiveram uma alta de 45% nos últimos 4 anos. O problema tornou-se mais grave porque a força de trabalho do Japão foi dividida em duas categorias distintas: funcionários regulares e aqueles com contratos temporários ou sem padrão, frequentemente mulheres e jovens.

Advogados e acadêmicos dizem que contratantes sem escrúpulos divulgam uma vaga em tempo integral com horas de trabalho razoáveis, mas posteriormente oferecem aos candidatos um contrato não regular com horas de trabalho mais longas, às vezes durante a noite ou aos finais de semana, sem pagamento de hora extra.

Segundo eles, os candidatos mais jovens aceitam a proposta devido à falta de experiência, enquanto as mulheres, tentando reentrar no mercado de trabalho após darem à luz e criarem os filhos, sentem que seria difícil conseguir apoio em outro local.

Emiko Teranishi, que lidera o grupo de apoio às Famílias que Lidam com o Karoshi, disse que há muitas reclamações sobre táticas de contratação, com algumas empresas dizendo aos candidatos que seus salários incluem 80 horas extras e que ele devem reembolsar a empresa caso trabalharem menos.

Abusos como esses tornaram-se comuns nos últimos 10 anos, com tais empresas sendo chamadas na mídia de “black companies”.

news-11042016-1Hirokazu Ouchi, professor da Universidade Chukyo, escreveu um livro no ano passado sobre as “black companies” ao perceber que alguns de seus alunos estavam sendo tratados ilegalmente em seus trabalhos de meio período.

Segundo Ouchi, as táticas de contratação de tais empresas, tipicamente, seguem um padrão similar. ” As empresas contratarão alguém por 2 a 3 anos, mas não têm a intenção de investir tempo ou dinheiro para nutrir os funcionários”, disse Ouchi.

“Essa é uma maneira para as empresas manterem os custos de trabalho baixos, mas isso também é um caminho que leva à morte por excesso de trabalho”, disse Ouchi.

Fonte: Portal Mie

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